Propaganda da Volkswagen com casal gay é alvo de ataques homofóbicos
Uma campanha publicitária, realizada pela Volkswagen do Brasil, entrou nos trending topics nesta terça-feira (10/05) devido ao volume de ataques homofóbicos gerados. A postagem que a empresa fez no Twitter na sexta-feira (06/05) viralizou. A imagem mostra um casal gay em frente a um carro modelo Polo acompanhado da legenda “Você sabe o que evoluiu junto com você? O pólo. O que já era bom ficou ainda melhor, com muito mais segurança e tecnologia”.
Sabe o que evoluiu junto com você? O Polo. O que já era bom ficou ainda melhor, com muito mais segurança e tecnologia. Você acessa seu veículo sem o uso de chaves, aproveita a transmissão automática de 6 velocidades e se conecta com tudo pelo VW Play. #Polo #VWBrasil pic.twitter.com/I9SMv65tg2
— Volkswagen do Brasil (@vwbrasil) May 6, 2022
A publicação faz parte da agenda de Diversidade e Inclusão da montadora alemã, que já havia veiculado em 2021 um vídeo da mesma campanha, que foi criticado na época e voltou a viralizar no WhatsApp nesta semana. Os comentários vão desde críticas ao casal gay ser o protagonista, declarações de alguns usuários de que não comprariam mais carros da marca ou que seus carros seriam desvalorizados devido à publicidade, até comentários e montagens de cunho pejorativo.
Alguns dos ataques homofóbicos mostraram montagens com a caixa de câmbio do carro apenas com a opção “r” e a sexualização de acessórios. Alguns usuários do Twitter chegaram a afirmar que as propagandas da Volkswagen nos anos 2000 eram da época em que a montadora ainda sabia anunciar, referindo-se ao vídeo promocional do modelo Gol com uma mulher nua na frente.
“A diferença enriquece, o respeito une. A Volkswagen do Brasil celebra a diversidade sexual e de identidade de gênero. Promover a Diversidade & Inclusão é um dos pilares estratégicos da marca”, declarou a Volkswagen em nota enviada ao Estado de Minas.
“Temos a responsabilidade de continuar aprendendo como podemos contribuir para o combate a qualquer forma de preconceito, pois consideramos essencial conciliar as diferenças para a construção de uma sociedade justa para todos. Em relação à interação com os usuários, comentários ofensivos e desrespeitosos são devidamente apagados de nossas páginas”, conclui a montadora.
Campanha amplia o público de compra
Lucas Lauriano, professor da Escola de Administração do ISEG em Paris, na França, acredita que a publicidade amplia o público da marca, o que aumenta o diálogo com pessoas LGBTQIA. O professor desenvolveu um estudo de doutorado em que analisa o impacto das discussões nas redes sociais sobre o trabalho de funcionários LGBTQIA em uma empresa do setor automobilístico, que atua no Brasil. No trabalho, a pesquisadora optou por não revelar o nome da empresa para uma melhor análise científica. O pedido de Estado de Minas ele analisou a campanha da Volkswagen do Brasil.
“Quando a Volkswagen apresenta um casal LGBTQIA, isso demonstra que os carros não são apenas para homens heterossexuais. Vale ressaltar que a publicidade não diminui a questão da masculinidade, mas mostra que carros não são apenas para homens heterossexuais”, diz a pesquisadora. Ele destaca que, ao focar em uma minoria, ao contrário do que afirmam setores conservadores, a empresa amplia o leque de consumidores.
Em 2018, a empresa analisada por Lucas iniciou o processo de mudança para tornar o ambiente corporativo mais diversificado. Na época, a empresa só tinha indicadores da presença de mulheres em cargos de gestão.
“A indústria automobilística é muito masculina e heteronormativa. Muitos funcionários da empresa se sentiram oprimidos e tiveram que adotar comportamentos heteronormativos na escolha de gestos, fala e roupas”, diz o professor.
Lucas considera a campanha da Volkswagen ousada porque a indústria automobilística é muito masculina, mas muito necessária para contribuir com a discussão sobre diversidade. “Se é um risco ou não, faz muito sentido no caminho da diversidade que a empresa está trilhando internamente”, avalia.
A pesquisadora considera que a campanha é uma estratégia de marketing, mas demonstra coerência com a vontade da empresa de se adaptar aos novos tempos. Em sua opinião, comentários negativos não devem fazer com que a mara recue. “Isso foi bem pensado antes. Eles pensam muito nos reflexos nas vendas e na imagem da marca antes de fazer uma campanha”, diz.
A pesquisadora lembra que a diversidade é uma diretriz intranacional da marca. “No sa Volks do Brasil”. Na Alemanha, país de origem da multinacional, esse caminho já estava traçado. “A tendência é aumentar a diversidade interna e publicitária. Não vejo possibilidade de recuo”, conclui.