Já quis namorar duas pessoas ao mesmo tempo? Trisal pode ser a solução

Já quis namorar duas pessoas ao mesmo tempo? Trisal pode ser a solução

Relacionamento de trisal: Sanny Rodrigues (short), Karina Matos e Diego Gonçalves estão juntos há três anos - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Relacionamento de trisal: Sanny Rodrigues (short), Karina Matos e Diego Gonçalves estão juntos há três anos – (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Um é pouco, dois é bom e três é demais. Será? Nem sempre! Para algumas pessoas, o antigo ditado popular está desatualizado e três, longe de ser “demais” é o número ideal em um relacionamento romântico.

E é no triângulo amoroso do bem, e consensual, que surgem os trisais. Derivado do termo casal, o relacionamento costuma seguir os mesmos moldes do namoro ou casamento tradicional, mas com três pessoas.

O trisal é uma das formas de romance baseados no poliamor, o conceito de que o amor afetivo e romântico não precisa ser compartilhado apenas entre duas pessoas, mas por quantas os envolvidos desejarem.

É fundamental ressaltar que tanto no trisal quanto em outros formatos de poliamor, o conhecimento e o consentimento de todas as partes são aspectos inegociáveis. Diferente de todas as outras regras, que podem variar em cada relação.

Triângulo equilátero

 

É na honestidade e no diálogo aberto que se baseia o casamento dos empreendedores e influenciadores digitais Sanny Rodrigues, 29 anos, Karina Matos, 25, e Diego Gonçalves, 31. Juntos há três anos, eles vivem um trisal em triângulo — ou seja, todos estão envolvidos com todos —, e fechado.

Sanny e Diego estavam juntos havia 10 anos e eram pais de Miguel, 5, quando decidiram abrir a relação para uma terceira pessoa. O intuito não eram encontros casuais, mas, sim, um namoro e, posteriormente, casamento, incluindo os aspectos emocional e sexual.

Sanny é bisexual e Diego, hétero — motivo pelo qual eles optaram por uma mulher para compor o trisal. Ao criar um perfil em um aplicativo de relacionamento, conheceram Karina e marcaram o primeiro encontro. “Eu não estava procurando um casal, não tinha nem pensado. Nunca tinha me relacionado com uma mulher também, mas já estava com essa vontade. Quando vi os dois, algo me chamou a atenção e resolvi dar o match”, lembra Karina.

O primeiro encontro começou com um certo nervosismo e tensão dos três, mas, uma vez vencida essa barreira, o amor foi quase instantâneo. Cerca de um mês depois eles estavam morando juntos. Como em um triângulo equilátero, todos os lados do relacionamento são iguais. Eles dividem as responsabilidades com o filho, com a casa, com as contas e um com o outro. Foi esse equilíbrio que os ajudou a vencer o ciúme, por exemplo.

“Nosso casamento nunca foi aberto e sempre existiu ciúme das duas partes. Quando a Karina chegou, teve um pouco, mas, como a escolha foi dos dois, não foi tão intenso. Nós não dividimos, somamos. Isso já leva 90% do ciúme embora” diz Diego.

Sanny lembra que o que despertava um pouco de dor de cotovelo eram algumas atenções trocadas entre duas partes e que não envolviam a terceira, que acabava se sentindo excluída.

Terapeuta, ela trouxe seu conhecimento para o casamento. A conversa sincera e a dedicação mútua a todas as relações existentes, a dos três, a de Sanny e Karina, a de Sanny e Diego e a de Karina e Diego, trazem a harmonia. Rindo, Sanny acrescenta que isso não quer dizer que não exista ciúme. “Nosso casamento é e sempre foi fechado. Com pessoas de fora, todos somos ciumentos com todos”.

Influenciadores

Dividindo parte da rotina nas redes sociais e mostrando que o casamento é composto de amor e não um pecado, como muitos dos haters falam por aí, os três garantem que a intolerância é a maior dificuldade.

A família de Diego nunca se opôs à relação, o que ele acredita ser uma reação fruto do mundo machista. “Infelizmente, muitos olham para nós não como um trisal, mas, sim, como um homem com duas mulheres e acham que isso é algum mérito para mim”, lamenta.

Sanny e Karina, que enfrentaram mais resistências das próprias famílias, também se incomodam com esse rótulo e garantem que, assim como as duas são esposas de Diego, elas são casadas uma com a outra. “As pessoas agem como se eu estivesse dividindo o Diego e esse é um dos julgamentos que mais me incomoda. Mas hoje nós lidamos melhor com o preconceito. Nas redes sociais, eu já bloqueio”, garante Sanny.

A família de Karina é a mais resistente e cortou laços com ela. Mas a caçula do trisal garante que o amor que vive, inclusive o de mãe, faz valer as dificuldades que eles precisaram enfrentar. Para evitar que mais pessoas sofram com a falta de aceitação, o “Trisal Brasília” faz lives, caixinhas de perguntas e até mesmo o “tinder de trisal” toda sexta-feira, quando buscam reunir interessados.

Dicas de como entrar em um trisal, lidar com o ciúme e outras demandas emocionais também fazem parte do perfil. Debates e troca de informações sobre as aspectos legais, jurídicos e outras burocracias também acontecem.

Apesar de não sentirem a necessidade de um papel para formalizar a relação, eles se preocupam com algumas garantias de direitos e com o fato de que o segundo filho que pretendem ter não sairá da maternidade com o nome dos três na certidão.

“Temos esses obstáculos em uma sociedade baseada na monogamia, mas nossa cumplicidade e companheirismo vencem tudo isso. É muito bom poder vivenciar ainda mais amor”, completa Sanny.

Trisal por acaso

Diferentemente de Sanny Rodrigues e Diego Gonçalves, Felipe Rodrigues Braz, 30 anos, e Kawany de Jesus Lima, 30, casados há 14, não estavam em busca de envolvimento emocional com outra pessoa,
muito menos pensavam em se tornar um trisal.

O empresário e a atendente de telemarketing, pais de três filhos, resolveram abrir a relação para dar uma
apimentada. Felipe é heterossexual e Kawany, até então, acreditava ter a mesma orientação. Quando o casal decidiu aceitar o envolvimento físico com outras pessoas, ela teve a curiosidade de sair com outras mulheres e se descobriu bissexual.

Depois de alguns encontros casuais separados, os dois consideraram um encontro a três e curtiram a experiência. O plano era encontrar cada pessoa externa somente uma vez e não se engajar em nenhum tipo de relação afetiva. Mas, quando conheceu a chapeira Laís Keane de Moraes Lima, 19, Kawany sentiu vontade de manter uma amizade.

Com a concordância de Felipe, Kawany e Laís, que é pansexual, começaram a se ver mais vezes e engataram um namoro. “Era para ser mais casual, mas a gente se envolveu e, quando a Laís me pediu em namoro, combinei com o Felipe e aceitei”, lembra.

Naquele momento, as duas fecharam o relacionamento e deixaram de ver outras pessoas, exceto no caso
do envolvimento prévio com Felipe. O empresário continuou casado e liberado para se encontrar casualmente com outras mulheres.

Laís lembra que, no início, estava apenas buscando aventuras e relações casuais. “Mas não teve jeito, a
Kawany me laçou, me envolvi, me apaixonei e depois o mesmo aconteceu com o Felipe”, conta, aos risos. E, assim, os três estavam satisfeitos.

Passado cerca de um mês, Laís acabou expulsa de casa, pois a família não aceitava seu namoro. No calor
do momento, ela foi morar com a namorada e o marido dela. “Não dizemos que foi planejado porque ali, na hora, tivemos que tomar uma decisão. Explicamos para as crianças que ela precisava ficar na nossa casa por um período e hoje eles estão mais velhos, sabem e aceitam a nossa relação”, conta Kawane.

A partir da convivência, Laís e Felipe começaram a se envolver e criaram, também, um laço afetivo. Quando
perceberam que a relação tinha evoluído, há cerca de um ano e dois meses, os três decidiram se tornar, oficialmente, um trisal e fechar o relacionamento.

“Eu e o Felipe somos muito tranquilos e não temos muitos ciúmes. Sair com uma ou outra pessoa não seria um problema para nós, mas a Laís é muito ciumenta e nos comprometemos com ela”, conta Kawany.

Rindo, os dois comentam sobre os ciúmes da parceira. “De vez em quando, o pessoal brinca, faz piadinha
dizendo que quer entrar no relacionamento e eu rio, entro na brincadeira. Mas, quando olho, ela já está
brava”, conta Felipe.

Ele ressalta que não é por levarem alguns comentários na brincadeira ou não se abalarem muito com as críticas e preconceitos que o relacionamento não é sério. “Tem gente que chega querendo ficar com um ou
outro, achando que, por sermos um trisal, não temos fidelidade entre nós”, comenta.

“Sempre digo que todos são beneficiados nessa relação e todos gostam. Não é o Felipe que tem duas
mulheres. Eu e a Laís também temos dois companheiros”, completa Kawany.

Reportagem do Correio Braziliense

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