Família contesta versão da PM sobre morte de jovem em surto em Manhuaçu: ‘Atiraram para matar’
Mateus estava em tratamento e era descrito pelos familiares como um jovem trabalhador, alegre e muito ligado à família
A morte de Mateus Teixeira, de 27 anos, durante uma ação policial no bairro São Francisco de Assis, em Manhuaçu, na sexta-feira (18 de outubro), revoltou familiares. O jovem, que estava em surto na própria casa, foi baleado pela Polícia Militar (PM) após tentativas frustradas de contenção pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A família questiona a versão da PM de que a ação foi em legítima defesa.
De acordo com uma prima de Mateus, os pais do jovem acionaram o Samu após ele entrar em surto e pegar duas facas. A equipe médica tentou controlá-lo, mas, sem sucesso, chamou a Polícia Militar. “Ele estava dentro da casa, e a família toda já estava presente, tentando ajudar. Quando a polícia chegou, meu tio perguntou se iriam usar meios letais, e disseram que não. Disseram que seria só spray de pimenta e bala de borracha para conter o Mateus”, afirmou a prima.
Ainda segundo ela, Mateus estava na metade de uma escada dentro de casa quando foi atingido pelos disparos. A prima afirma que Mateus não representava uma ameaça imediata, já que ele tinha uma perna amputada, e os policiais estavam posicionados na parte inferior da escada. “Eles atiraram para matar, não para machucar. Ele foi baleado no peito e no rosto, com um dos tiros pegando na altura da boca. Ele rolou escada abaixo e morreu”, relatou a prima.
Os familiares denunciam que Mateus permaneceu caído no chão por cerca de 40 minutos, enquanto o Samu alegava estar tentando estabilizá-lo. “A polícia afastou todos da casa, inclusive os pais. Eles não deixaram ninguém chegar perto, nem mesmo quando ele estava caído. A comunidade ficou revoltada e, em resposta, a PM usou spray de pimenta e balas de borracha para dispersar as pessoas”, conta a prima.
A prima afirma que o jovem estava em um ponto vulnerável, sem possibilidade de ameaçar os policiais, que, segundo testemunhas, não usaram medidas não letais antes dos disparos. “Se ele tivesse partido para cima dos policiais, eu entenderia. Eles alegam legítima defesa, mas atiraram de longe, enquanto ele estava na escada”, disse.
Mateus, que já havia passado por outros episódios de surto, estava em tratamento e era descrito pelos familiares como um jovem trabalhador, alegre e muito ligado à família. “Ele estava dentro da casa, não estava na rua ameaçando ninguém. Não oferecia perigo, e o Samu foi chamado para ajudar. O que aconteceu com ele foi um erro grave. Queremos justiça”, desabafou.
A comunidade do bairro São Francisco de Assis se organiza para uma manifestação no próximo sábado, em protesto contra a ação policial e para exigir que o caso seja investigado. “A polícia deveria estar preparada para lidar com esse tipo de situação. Queremos que isso ganhe visibilidade, para que nenhuma outra família passe pelo que estamos passando”, completou.
Em nota, a Polícia Militar prestou solidariedade à família e afirmou que chegou a usar instrumentos de menor potencial ofensivo.
“Durante a intervenção foi feito o uso diferenciado da força, por parte das equipes policiais, com utilização de instrumentos de menor potencial ofensivo, como espargidor de pimenta e munições de elastômero, porém o indivíduo ainda assim tentou agredir os militares com as facas, sendo necessário realizar disparos de preservação da vida para repelir a agressão. O cidadão alvejado foi imediatamente socorrido pelo SAMU, que já estava no local, mas infelizmente não resistiu indo a óbito. As Providências de Polícia Judiciária Militar foram adotadas pelo 11º BPM e o caso está em apuração”, afirmou.