Inferno no deserto: as famílias cercadas por oleodutos incendiados pelo Estado Islâmico
Em meados de 2016, o grupo autodenominado Estado Islâmico incendiou um dos maiores campos de petróleo do Iraque, na cidade de Qayyarah.
Os bombeiros levaram 10 meses para extinguir as chamas. A fumaça era tão espessa e preta que era detectada no espaço por satélites da Nasa, a agência espacial americana.
Mesmo em fevereiro deste ano – quase um ano depois do início da tragédia – satélites que identificam calor mostravam ainda vários focos de incêndio. Somente agora em abril que o fogo foi completamente controlado.
Mas a fumaça intoxicou o ar, a terra, e a água na região no norte do país. O ar e a paisagem continuam fortemente poluídos. A operação de limpeza pode durar meses.
Entre os que mais sofrem com a situação estão as famílias que vivem em Qayyarah, como mostram essas imagens cedidas pela organização não governamental Oxfam.
Ali Hassan, sua mulher Fatima Mahmoud e suas três crianças vivem perto de um poço de petróleo em chamas.
Sua casa foi invadida por fumaça preta. Fatima conta que está sempre fazendo limpeza – e que a sujeira não para de chegar.
Controlar as chamas de um incêndio provocado por petróleo é um trabalho delicado e lento. Alguns dos bombeiros que ajudaram a combater as chamas costumavam trabalhar nos campos de petróleo que, até então, eram o foco da economia da cidade.
Mas no último ano, eles trabalharam em turnos de oito horas muito próximos de crateras em chamas, aguentando calor intenso e respirando ar contaminado com alcatrão queimado.
Em meio à fumaça, as crianças que brincam ao ar livre começaram a ter dificuldade para respirar; algumas tiveram reações na pele, com aparecimento de erupções e feridas no rosto.
A fumaça, que tinha dióxido de carbono, aerossóis ácidos e metais tóxicos como mercúrio e chumbo, deixava os olhos avermelhados e queimava o pulmão.
A casa de Mahmoud Ali foi gravemente avariada por um incêndio próximo a ela que durou dois meses. As paredes e assoalhos foram cobertos por piche.
Mahmoud costumava trabalhar como policial antes de o Estado Islâmico assumir o controle de Qayyarah.
Ele e a família tiveram de fugir por causa do conflito, mas recentemente voltaram e se viram obrigados a morar na casa praticamente inabitável.
A Oxfam tem ajudado a conseguir cloro para o tratamento das estações de água na tentativa de fazer com que seja segura para beber.
Segundo os moradores, cerca de 60 casas foram destruídas pelas chamas, mas muitas ficaram totalmente inabitáveis por causa do óleo fervendo nos arredores dos imóveis ou mesmo dentro deles.
Quando o incêndio começou, os poços se transformaram em crateras de óleo em chamas que escureceram o céu da cidade e de vilarejos próximos com fumaça tóxica.
Houve dias em o ar de Qayyarah era tão pesado e espesso por causa da fumaça preta que bloqueava completamente o sol. Perto das crateras, poços de óleo e de gás começavam a pegar fogo subitamente.
Usando escavadeiras, os bombeiros jogavam areia nas chamas, enquanto homens com mangueiras de alta pressão tentavam manter o maquinário petroleiro resfriado o suficiente para continuar operando.
A crise na saúde pública piorou ainda mais em outubro do ano passado, quando o EI incendiou uma fábrica de enxofre em Al-Mishraq, ao norte de Qayyarah.
Uma nuvem de dióxido de enxofre e ácido sulfúrico se espalhou pelo Iraque, chegando até Bagdá, no sul, e à Turquia e à Síria, a noroeste.
Um relatório da ONU revelou que, durante um período de apenas três dias naquele mês, quando o fogo de enxofre ainda estava queimando, mais de mil pessoas foram tratadas por queixas respiratórias e problemas de pele causados pela fumaça do fogo da fábrica e de poços de petróleo.
g1.globo