Certos fatores influenciam no tratamento contra o câncer
O câncer é uma doença grave que mata, por ano, cerca de 8 milhões de pessoas em todo o mundo. Em 2013, só no Brasil, foram registradas cerca de 190 mil mortes em decorrência de tumores. Já em 2016, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estimou a ocorrência de quase 600 mil novos casos da enfermidade no país.
A boa notícia é que o tratamento contra o câncer vem melhorando seu desempenho ao longo dos anos com o surgimento de novas técnicas e de novos medicamentos. “Antes, a única forma de tratamento contra o câncer era a quimioterapia. Hoje, já são várias. As principais são a cirurgia, a radioterapia e o tratamento sistêmico, que inclui também a hormonioterapia, o uso de agentes biológicos (drogas-alvo) e a imunoterapia”, explica o oncologista Amândio Fernandes, diretor da Oncomed-BH.
Ele ressalta que um dos fatores mais importantes para o sucesso do tratamento é o diagnóstico precoce, ou seja, a identificação do tumor ainda no início, quando ele nem sequer causa sintomas ou alterações em exames.
“É importante lembrar que o câncer, de maneira geral, tem uma história natural muito longa e que sua fase pré-clínica, ou seja, quando ainda não há manifestações clínicas, é muito longa, podendo ter uma duração de três a cinco anos. Nesse período, temos a oportunidade de diagnosticar o câncer e garantir maiores chances de cura com tratamentos menos agressivos e com menores efeitos colaterais”, afirma Fernandes.
Outro fator de grande relevância na luta contra a doença é a adesão ao tratamento, isto é, o grau de cumprimento das medidas terapêuticas indicadas pelo médico, sejam medicamentosas ou comportamentais. “Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), existem situações em doenças crônicas em que a adesão ao tratamento recomendado é inferior a 40%, 50% dos pacientes”, alerta o oncologista.
Quimioterapia. O termo “quimioterapia” refere-se ao tratamento de doenças utilizando-se de substâncias químicas que afetam o funcionamento celular, levando a sua estagnação ou destruição, dependendo do tipo. “É importante lembrar que, embora as drogas quimioterápicas acarretem maior dano às células malignas, elas afetam também as células normais. Por isso, alguns quimioterápicos provocam queda de cabelo, diarreia, anemia, maior predisposição a infecções e surgimento de aftas etc.”, explica ele.
Porém, segundo Fernandes, alguns efeitos colaterais podem ser amenizados com certos medicamentos. “A queda da imunidade é um dos principais efeitos colaterais relacionados ao tratamento e uma grande preocupação para os médicos, devido ao risco aumentado de infecções. Na eventualidade do surgimento de febre e/ou calafrios, o médico assistente deve ser prontamente informado para que medidas específicas sejam tomadas”, explica.
Radioterapia. Enquanto a quimioterapia atinge todo o organismo eliminando as células malignas no foco do tumor ou espalhadas pelo corpo, a radioterapia é uma forma de tratamento local que utiliza feixes de radiação ionizante capazes de destruir as células tumorais localizadas. “É um tratamento feito em região bem determinada envolvendo a área do tumor, com cuidado de preservar os tecidos vizinhos. A radioterapia pode ser utilizada isoladamente ou associada à quimioterapia, antes ou após o tratamento cirúrgico”, frisa o oncologista.
Drogas-alvo. Fernandes destaca que recentes pesquisas da área de biologia molecular descobriram os mecanismos que permitem o crescimento e a proliferação desordenada das células malignas. A partir disso, os cientistas conseguiram desenvolver drogas que agem em pontos específicos, ou seja, nos alvos, impedindo o crescimento e a proliferação das células tumorais. “Essas drogas atingem diretamente as células cancerosas, sem atacar as células normais e, assim, não provocam os efeitos colaterais observados na quimioterapia”, frisa.
Em muitas situações as drogas-alvo podem ser utilizadas isoladamente substituindo a quimioterapia, como ocorre no caso de pacientes que têm câncer de pulmão com gene de mutação do EGFR. Podem, ainda, ser utilizadas em associação à quimioterapia, como ocorre, por exemplo, no câncer de mama com superexpressão do gene HER-2 e no câncer de intestino grosso que não tem mutação do gene RAS.
EXPECTATIVA
Organismo em guerra contra tumor
A imunoterapia é uma das novas apostas da medicina contra o câncer. É uma forma de tratamento biológico que estimula o sistema imunológico do paciente a combater e destruir as células do tumor. Segundo o oncologista Amândio Fernandes, os primeiros resultados dessa nova abordagem da imunoterapia foram demonstrados no tratamento do melanoma cutâneo metastático. Com os benefícios apresentados, o interesse na imunoterapia aumentou.
“Ainda mais recentemente, estudos com os imunoterápicos pembrolizumabe e nivolumabe mostraram resultados promissores no tratamento de tumores agressivos em estágio avançado, incluindo os cânceres de pulmão, renal, de bexiga, entre outros. O grande desafio da imunoterapia é descobrir a razão pela qual ela apresenta resultados espetaculares em alguns pacientes, mas não tem nenhum efeito sobre outros, ainda que tenham o mesmo tipo de tumor. Assim, torna-se essencial identificar quais pacientes poderão ser beneficiados pela imunoterapia”, pontua.