Justiça condena loja que checava peso de vendedora a indenizá-la em 50 mil
A vendedora de uma loja de bijuterias de Muriaé, na Zona da Mata Mineira, passou quase um ano e meio temendo a data mais aguardada por todo trabalhador: a do pagamento. Para receber parte da remuneração, a profissional era submetida a uma situação vexatória: subir na balança e mostrar ao chefe que havia perdido peso.
O caso foi parar na Justiça. A 1ª Vara do Trabalho de Muriaé condenou o estabelecimento a pagar indenização no valor de R$ 50 mil por danos morais à ex-funcionária. A decisão foi proferida em 13 de novembro.
Procurada pelo Estado de Minas, a loja informou que interpôs recurso à decisão judicial e aguarda o fim do processo para se manifestar.
Ainda muito abalada com a situação, D.L., de 26, preferiu se pronunciar por meio da advogada, Grazielle Berizonzi. A defensora conta que, para receber uma complementação salarial no valor de R$ 200, sua cliente era obrigada a cumprir metas de emagrecimento estipuladas pelo patrão, que chegavam a cinco quilos por mês.
“Para atingir as tais metas, ela ficava sem comer e até vomitava algumas refeições. A proximidade da data de pagamento passou a gerar pânico, virou uma tortura. Durante o período em que trabalhou na loja, D. chegou a emagrecer, mas não foi um emagrecimento saudável. O custo à saúde mental foi muito grande”, relata a Berizonzi.
Em outro recado, escrito no envelope usado para acondicionar o complemento, o gestor avisa: “Caso não tenha perdido o peso (combinado) do mês de julho, favor devolver os R$ 200″.
‘Desculpa de peidorreiro’
Um áudio gravado pela funcionária, também arrolado ao processo, registra um dos momentos em que D.L. foi constrangida a se pesar em uma balança comprada pelo patrão. Antes de subir no aparelho, a vendedora se justifica: “Eu me pesei sexta-feira. Deixa eu te mostrar a foto (da pesagem), deu 95,4 kg. (Antes), estava com 96,2 Kg. Mas, essa semana, deve dar mais, pois estou menstruada e retenho muito líquido, fico inchada”.
A vendedora então sobe na balança. Insatisfeito com os números apresentados, o chefe retruca: “Isso (a menstruação) é desculpa de peidorreiro!”. Em seguida, investiga o cotidiano de D. e se sente à vontade para questionar a frequência dela à academia. “Você está fazendo tudo direitinho? Por que naquele dia, 19h, você estava me mandando mensagem e não fez academia?”. Por fim, ameaça: ‘Vou te dar uma colher de chá dessa vez, hein? Mês que vem, se não tiver perdido….”.