Europa quer fechar as portas

Genebra, Suíça, e São Paulo. Produtores agrícolas europeus querem fechar as portas para a ampliação de importações de carnes do Mercosul, diante das revelações sobre corrupção nos certificados sanitários do produto no Brasil. O alerta foi lançado nessa sexta-feira (17) pela Confederação Europeia de Produtores Agrícolas que, num comunicado, deixou claro que vai tentar impedir um acordo com o Mercosul e até mesmo um aumento de importações. Para a entidade, o Brasil não tem o mesmo padrão de segurança na produção alimentar que a Europa, e um acordo entre europeus e Mercosul não pode prever uma maior abertura comercial enquanto as condições não sejam iguais nos dois lados.
“Essa diferença de qualidade ficou clara pelo caso no Brasil, no qual mais de 30 representantes de alto escalão do setor agroalimentar foram presos por não atender às exigências veterinárias no setor de carnes”, disse o secretário geral das cooperativas agrícolas da Europa, Pekka Pesonen.
Uma reunião entre o Mercosul e a União Europeia está marcada para o fim deste mês para debater as ofertas de liberalização entre as duas partes e, em especial, a situação sanitária do comércio. No ano passado, os blocos apresentaram uma lista do que poderiam abrir em termos comerciais, com o Mercosul sendo pressionado a liberalizar o setor industrial, enquanto à Europa foi solicitada a redução de tarifas para as importações agrícolas dos países sul-americanos.
Um dos centros do pedido do Mercosul, porém, é ampliação de cotas para a exportação de carnes, o que não estava na primeira oferta. Bruxelas havia indicado que estava disposta a incluir, com a condição de que os brasileiros oferecessem maior abertura em setores estratégicos, como o automotivo.
Agora, o setor agrícola europeu quer usar a corrupção como argumento para impedir a entrada dos produtos. “Os produtores apontam para a importância de garantir que as importações estejam dentro dos padrões de segurança e monitoramento”, disse a entidade.
“Precisamos de acordos justos e equilibrados na agricultura”, afirmou a entidade com sede em Bruxelas. “Temos um dos mais altos padrões de segurança alimentar do mundo e todos os que entram no mercado europeu precisam seguir o mesmo padrão. Caso contrário, a segurança de nossos consumidores estará comprometida”.
A entidade já havia enviado carta à Comissão Europeia colocando duas exigências: garantia de que só gado registrado e com monitoramento fosse autorizado a entrar em acordo de exportação de carnes com o Brasil, e que fosse barrado frango alimentado com rações consideradas ilegais na Europa.
Reputação. A maior preocupação do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, é com a imagem do Brasil. “É um tremendo soco na gente”, disse. Diante do quadro, a ordem é passar um pente-fino nos processos do ministério e corrigir as falhas. “Nossa prioridade é levantar os problemas que temos, levantar as operações, separá-las, dar o tratamento de choque que é preciso”, afirmou o ministro. “A mensagem para eles (os países importadores) é que nós seremos transparentes na verificação do problema”.
carne

MERCADO

EUA pedem explicações a Ministério da Agricultura

Brasília, Rio de Janeiro e Washington, EUA. Após a operação da Polícia Federal que escancarou um esquema de comércio de carne podre e adulterada, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, foi procurado por representantes dos Estados Unidos e da União Europeia, que pediram informações. O escândalo abala a imagem do país, maior exportador de carnes do planeta, e preocupa o governo brasileiro, que teme, nos bastidores, que parceiros internacionais usem esse problema como pretexto para adotar medidas protecionistas contra o Brasil.
O secretário executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Novacki, admitiu preocupação com a repercussão no exterior. Porém, ele observou que o Brasil é um grande player no mercado internacional do agronegócio e ressaltou que as denúncias se referem a casos isolados e que o produto brasileiro tem reconhecimento no exterior. “Isso nos deixa bastante preocupados. O consumidor vai buscar outros produtos”.
O governo norte-americano, que em meados de 2016 passou a autorizar a importação de carne in natura do Brasil, afirmou que está monitorando a situação do país. Autoridades temem que o episódio possa ser uma desculpa perfeita para que a administração de Donald Trump, com viés protecionista, barre o produto brasileiro novamente.
Bovespa despenca
A operação da Polícia Federal em empresas do setor alimentício foi o principal fato gerador da queda de 2,39% do Índice Bovespa, que terminou a sexta-feira em 64.209,39 pontos. A operação Carne Fraca atingiu diretamente as ações da JBS e da BRF e teve efeitos secundários nos papéis do setor financeiro, em parte responsável pelo financiamento das empresas investigadas por irregularidades e pagamento de propinas. A notícia pegou investidores de surpresa e gerou um movimento de zeragem de posições, que aprofundou o viés de baixa da Bolsa de Valores.
Maior exportador
Em 2016, frigoríficos instalados no Brasil exportaram US$ 12,6 bilhões em carnes e subprodutos. O valor é comparável ao embarque de minério. Só em frango, foram US$ 5,9 bilhões, o que dá ao Brasil o título de maior exportador do mundo. Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) mostram que o setor de proteína animal está consolidado como um dos principais motores das exportações brasileiras. Em 2016, o item “carnes e miudezas comestíveis” figurou como terceiro grupo mais importante na pauta de exportações – atrás apenas de grãos e dos minérios.
Varejo vai esperar
A Abras (entidade que reúne redes de supermercados) disse que vai aguardar a identificação dos lotes irregulares para tomar “medidas necessárias”, sem especificar quais serão as iniciativas. Walmart e Carrefour disseram que já procuraram seus fornecedores citados para pedir esclarecimentos. As redes afirmam ter controles rigorosos para selecionar e monitorar seus fornecedores de perecíveis. O GPA, das bandeiras Pão de Açúcar, Extra e Assaí, afirmou que “repudia qualquer prática que coloque em risco a saúde de seus clientes”.
Estrago está feito
Qualquer que seja o desfecho da operação Carne Fraca, o dano às marcas envolvidas está feito, na opinião de especialistas em marcas e marketing. “O mercado reagiu muito mal, o que é um sinal de que a notícia afeta a reputação das empresas”, disse Eduardo Tomiya, vice-presidente da Kantar Vermeer. Para Jaime Troiano, da Troiano Branding, marcas líderes têm a vantagem de ter um “saldo” com o cliente que lhes permite se recuperar. “Por outro lado, é surpreendente. São empresas que não deveriam estar envolvidas nesse tipo de problema.
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