Número de mães depois dos 40 anos cresce 49%
São Paulo. Ter filhos sempre foi um dos sonhos da bancária Fabiana Galvão. Antes, porém, ela queria construir uma carreira sólida e alcançar a estabilidade financeira. Quando tudo isso chegou, aos 39 anos, ela começou a tentar engravidar. “Você foca no trabalho, o tempo passa e, como se sente bem fisicamente, jovial, acha que pode esperar, mas o relógio biológico não é bem assim”. Com ajuda da fertilização in vitro, Fabiana engravidou e deu à luz a gêmeos aos 42 anos.
Como Fabiana, cada vez mais brasileiras optam por ter filhos após os 40 anos. Dados inéditos do Ministério da Saúde mostram que o número de mulheres que foram mães após essa idade subiu 49,5% em 20 anos, passando de 51.603 em 1995 para 77.138 em 2015, dado mais recente disponível pelo órgão.
As estatísticas mostram que 72.290 dessas mulheres tinham entre 40 e 44 anos, e outras 4.475 estavam na faixa etária dos 45 aos 49.
Ainda de acordo com dados do ministério, outras 373 brasileiras se aventuraram na maternidade após os 50, e 21 já eram sexagenárias quando deram à luz.
Dificuldades. Segundo Arnaldo Cambiaghi, médico especialista em reprodução humana da clínica IPGO, a história de Fabiana se repete entre a maioria das mulheres que adia a gravidez. “Elas buscam melhor colocação profissional e, além disso, acreditam que a medicina será capaz de resolver qualquer problema, mas nem sempre é assim. Embora a gravidez natural e saudável seja possível após os 40, a dificuldade para engravidar e os riscos para a mãe e o bebê são reais”, afirma o especialista.
O médico Antonio Fernandes Moron, professor de obstetrícia da Universidade Federal de São Paulo e coordenador de medicina fetal do Hospital e Maternidade Santa Joana, ressalta que outra razão para adiar a gravidez é a mudança nas dinâmicas dos relacionamentos afetivos. “A mulher busca autonomia, independência em relação ao parceiro. Não precisa se manter em um único relacionamento desde jovem. A maternidade após os 40 acontece muito entre as pessoas que estão, por exemplo, no segundo casamento”, ressaltou.
Riscos. A partir dos 35 anos, por causa do envelhecimento dos óvulos, aumentam os riscos de aborto e de malformação do feto. Também cresce o risco de doenças na gestação.
Idade. Até 2015, o Conselho Federal de Medicina só autorizava que mulheres até os 50 anos passassem por tratamento para engravidar. Depois uma nova resolução foi editada, e o tratamento passou a permitido para pacientes mais velhas.
Especialistas alertam que riscos aumentam com a idade
Segundo especialistas, conforme aumenta a idade da mulher, crescem os riscos de doenças na gravidez e de anomalias congênitas ao bebê. Eles podem ser minimizados com cuidados com a saúde da gestante e exames que identificam possíveis mutações genéticas nas células reprodutoras.
Foi por meio de um procedimento do tipo que a analista contábil Damaris Carvalho, 49, conseguiu engravidar dos gêmeos que espera para abril. Com a idade avançada e endometriose, ela fez tratamentos de reprodução assistida por dez anos até que, em 2016, conseguiu gerar dois fetos saudáveis. Antes da fertilização in vitro, seus embriões foram submetidos a um exame que investiga alterações cromossômicas. “Quase desisti, muitos médicos não me encorajavam, mas desde os 10 anos, sonhava em engravidar”, conta.
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