Mãe acredita que criança foi estuprada e morta por vingança

“Já li gente dizendo que eu fazia rodízio de padrasto, mas isso nunca aconteceu. Eu só tive dois homens na minha vida. Eu tive uma infância difícil. Vivi em abrigos e casei com 12 anos para sair de lá. Fiquei com meu ex-marido por quase dez anos. O Michael foi o segundo homem da minha vida. Ele enganou a todos. Meu sonho sempre foi ter uma família feliz. A família que eu não tive quando era criança”
A dor de uma tragédia, somada ao julgamento no ‘tribunal da internet’, não abandonam a cuidadora de idosos, Maria Isabel Claudino, de 22 anos. Além de enfrentar a morte da filha de dois anos e quatro meses, Fabiane Isadora Claudino, ela recebe ameaças e acusações nas redes sociais de ter sido cúmplice do companheiro, Michael Lelis, que violentou, torturou e matou a menina na última quinta-feira (18).
Em entrevista à jornalista Elis Carvalho, de A Gazeta, Maria Isabel contou que, percebendo o temperamento abusivo do Michael, se preparava para deixá-lo. Ela acredita que, em meio a um relacionamento já abusivo, Michael tenha abusado e agredido a menina para se vingar dela.

Segundo a mãe de Isadora, Michael foi o primeiro homem a morar com ela e as crianças depois que se divorciou do pai da menina, em São Paulo. Com a separação, ela veio morar com uma irmã no Espírito Santo, em busca de novas oportunidades.
Aqui, Maria Isabel conheceu Michael e ficou atraída pela “personalidade tranquila” dele. “Ele sempre foi muito atencioso com as crianças. Foi esse carinho com elas que me fez decidir ir morar com ele”, contou.
Após sete meses de namoro, os dois foram morar juntos. Michael sempre arcou com todas as despesas na casa e da família. Após um ano de convivência, ele começou a mostrar uma personalidade diferente. “Ele era violento comigo durante as brigas, mas nunca era violento com as crianças”, lembra.
“Ele me batia, mas nunca deixei que encostasse nas minhas filhas. Quando ele queria bater, dizendo que era pra corrigir, eu intervinha. Ele me ajudou com Isadora desde que ela nasceu. Falava para todo mundo que ele era o pai. E ela o chamava de pai também”
Maria Isabel conta que Isadora aparecia eventualmente com marcas no corpo, que Michael sempre atribuía a quedas. A mãe dele, que ajudava a cuidar das crianças, sempre confirmou as histórias do filho e, por isso, ela afirma que nunca desconfiou de agressões.
CONTROLE

A cuidadora contou que o companheiro tinha todas as senhas das redes sociais dela e que, assim, evitava que familiares e amigos soubessem do relacionamento abusivo. Segundo ela, após as brigas em que era agredida, ele fazia postagens no Facebook em nome dela contando que estava feliz e apaixonada.

Em uma briga mais violenta no início deste ano, Michael teria jogado a Isadora com força em cima de uma cama. Segundo a mãe da menina, a partir daquele momento ela começou a pensar em se separar dele.
Após as brigas, segundo o relato da cuidadora, Michael sempre fazia todas as tarefas de casa, comprava presentes e doces para agradá-la.
DEPENDÊNCIA
Como o acusado era o único que trabalhava e pagava por todas as despesas da casa, Maria Isabel afirmou que, antes de se separar, pensou em arrumar um emprego para que pudesse cuidar das meninas sozinha. Semanas depois da briga, Michael contou que havia caído da escada junto das duas meninas, Isadora e a bebê de dez meses. Sem ter quem corroborasse com a versão dele, ela passou a desconfiar do companheiro e a se afastar dele.
“Jamais imaginei que pudesse acontecer algo assim. Já pensei que ele pudesse fazer algo comigo, mas nunca com minha filha. Ele que colocava tudo dentro de casa. Ele dava tudo para a minha filha. Mas na verdade, ele queria mostrar aos outros uma falsa felicidade e perfeição”
O DIA DO CRIME
Um dia antes do abuso, Michael comprou duas garrafas de uísque, cerveja e carnes. Por não achar que ele deveria gastar o dinheiro do aluguel com churrasco, Maria Isabel o proibiu de fazer a festa. Michael já havia convidado amigos e familiares para a ocasião e eles brigaram.
Ela acredita que essa briga, somada ao fato de o companheiro desconfiar que ela planejava deixá-lo, que motivou as agressões contra a menina.
Maria Isabel relatou que, quando chegou em casa na última quinta-feira (18), a menina estava quase morta. Michael estava sentado em uma cadeira em frente à janela mexendo no celular. Segundo ela, o companheiro não aparentava estar bêbado ou alterado.
“O pior castigo é a dor da culpa que vou carregar pra sempre. Não há necessidade de eu ser atacada. O criminoso é ele. A violência sempre foi contra mim, jamais imaginaria que ele chegaria ao ponto de fazer algo com a menina que ele chamava de filha”
Fabiane Isadora Claudino
gazetaonline

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