Hospital onde recibos de Lula teriam sido assinados não guarda imagens
A defesa do empresário Glaucos da Costamarques, envolvido na investigação sobre o apartamento do ex-presidente Lula, terá um obstáculo no caminho se quiser pedir imagens do circuito interno do Hospital Sírio-Libanês para servirem de prova no processo.
Os advogados trabalham com a possibilidade de usar os vídeos para demonstrar que, em novembro de 2015, quando o empresário estava internado no hospital, foram ao local o contador João Muniz Leite e o advogado Roberto Teixeira, advogado e amigo do petista.
O Sírio, no entanto, só mantêm as imagens no arquivo durante 15 dias, o que inviabilizaria a recuperação de registros da época para ajudar a esclarecer os fatos.
Em nota, a instituição diz que “as imagens geradas pelo sistema interno de vigilância são apagadas automaticamente após 15 dias, salvo solicitação oficial para arquivamento no decorrer desse período”.
Na versão da defesa de Costamarques, publicada pelos jornais “O Globo” e “Valor Econômico”, durante a internação ele assinou de uma só vez todos os recibos de aluguel de 2015 referentes ao apartamento vizinho ao do ex-presidente em São Bernardo do Campo, usado pelo petista e sua família.
Segundo os advogados, os comprovantes teriam sido levados por Leite a pedido de Teixeira.
Costamarques, que é primo do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, estava na época tratando de um tumor.
Roberto Teixeira confirma um encontro com Costamarques no hospital em 2015, mas diz que eles cruzaram por coincidência no saguão e não falaram do assunto.
A versão do contador João Muniz Leite é a de que ele esteve, de fato, no local, mas que levou cerca de doze recibos, e não todos os 26 apresentados por Lula no processo.
As imagens das câmeras -que poderiam, por exemplo, mostrar quantas folhas Costamarques assinou- seriam requisitadas em uma petição da defesa de Costamarques na 13ª Vara Federal de Curitiba. No documento, além da solicitação das gravações, constaria o relato da maneira como os comprovantes foram assinados.
Os advogados do empresário não se manifestaram oficialmente sobre o caso nesta quinta-feira (28).
Desde que foram entregues pela defesa de Lula, na segunda-feira (25), os recibos têm sido alvo de vários questionamentos.
Dois dos 26 papéis informam datas inexistentes: 31 de junho de 2014 e 31 de novembro de 2015. Para os advogados do petista, trata-se de um “erro material” que não tem relevância no conjunto probatório.
PERÍCIA
Nesta quinta, a defesa de Lula afirmou que “tem absoluta tranquilidade de que os documentos guardados por dona Marisa revelam a expressão da verdade dos fatos”.
O petista nega irregularidades no caso e diz que quem cuidava do aluguel era sua mulher, Marisa Letícia, morta em fevereiro.
“Não há qualquer questionamento em relação às assinaturas que constam no documento. A quitação é a prova mais completa de pagamento, de acordo com a lei”, afirma Cristiano Zanin Martins, advogado de Lula.
Zanin sugere que os recibos possam ser submetidos a uma perícia, “se houver qualquer dúvida” em relação a eles.
Os documentos do imóvel foram entregues à Justiça a fim de comprovar que o aluguel, segundo a defesa de Lula, foi “uma relação privada de locação”.
O apartamento em São Bernardo é um dos pontos da acusação na ação a que o ex-presidente responde sob suspeita de receber propina da Odebrecht por meio da compra de um terreno onde seria construída a sede do Instituto Lula.
O caso deve ser sentenciado pelo juiz Sergio Moro nos próximos meses. Com informações da Folhapress.