Justiça do Canadá proíbe buzinas em protestos de caminhoneiros antivacina
A Justiça canadense proibiu o som de buzinas no centro da capital, Ottawa, após moradores entrarem com uma liminar reclamando do barulho ensurdecedor do protesto de caminhoneiros que já dura 12 dias e tornou-se uma crise política para o primeiro-ministro, Justin Trudeau.
A polícia também anunciou que apreendeu milhares de litros de combustível e removeu um petroleiro como parte da repressão ao ato, que paralisou a cidade para protestar contra as medidas sanitárias que buscam conter a Covid-19.
O chamado “Comboio da Liberdade” começou como um movimento que se opõe à obrigatoriedade da vacina para motoristas transfronteiriços -exigência também feita pelos EUA- e acabou se transformando em uma manifestação contra as medidas sanitárias implementadas pelo primeiro-ministro. A fronteira Windsor-Detroit é a passagem internacional mais movimentada da América do Norte.
A situação levou o Parlamento a convocar uma reunião urgente para debater os próximos passos. Em sua primeira aparição na Câmara dos Comuns após uma semana de isolamento devido a um diagnóstico de Covid-19, Trudeau disse que o protesto “tem que parar”.
“Esta é a história de um país que passou por essa pandemia unido. Algumas pessoas gritando e acenando com suásticas não definem quem são os canadenses”, afirmou. “O governo federal responderá”, prometeu.
O premiê e sua família deixaram Ottawa e foram para um local não revelado devido a preocupações de segurança. Os atos da semana passada incluíram algumas bandeiras confederadas e nazistas.
Os canadenses seguiram amplamente as medidas de saúde do governo e quase 79% da população elegível tomou duas doses da vacina. Mas pesquisas recentes mostraram que as frustrações contra as restrições estão crescendo.
Na segunda-feira (7), um juiz canadense concedeu uma liminar de dez dias impedindo as pessoas de tocarem buzinas no centro de Ottawa, após uma ação coletiva movida em nome dos moradores da área.
A Ambassador Bridge, uma importante ponte rodoviária que liga o Canadá aos Estados Unidos, foi temporariamente fechada em ambas as direções, informou o governo canadense.
O prefeito de Ottawa, Jim Watson, pediu ao governo federal a nomeação de um mediador para dialogar com os manifestantes. No domingo, Watson declarou estado de emergência na cidade ao afirmar que os protestos estavam “fora de controle”. Na segunda-feira ele pediu reforços ao governo federal para conseguir o fim do que chamou de “cerco”. Ele deseja o envio de 1.800 policiais adicionais.
Neste fim de semana, a polícia contou 1.000 caminhões e 5.000 manifestantes, abaixo dos 3.000 caminhões e 10 a 15 mil manifestantes do fim de semana anterior. De acordo com estimativas relatadas pela agência de notícias AFP, nesta terça (8) entre 400 e 500 caminhões bloqueavam o centro da cidade.
Uma das porta-vozes dos manifestantes, Tamara Lich, afirmou que os ativistas estão dispostos a negociar com o governo para buscar uma solução para a crise, mas insistiu na redução das restrições aos não vacinados.
Em um evento transmitido no YouTube, ela disse que os líderes do ato querem marcar uma reunião com o governo para “começar os diálogos e ver como podemos avançar, obter a suspensão das restrições e mandatos, restaurar os direitos e liberdades dos canadenses e ir para casa”.
Após as críticas por ter permitido o bloqueio do centro da capital, com lojas fechadas, a polícia de Ottawa anunciou no domingo novas medidas para controlar os protestos, com a proibição da entrega de combustível e mantimentos aos manifestantes.
Várias pessoas foram detidas ou multadas, e veículos foram apreendidos.
Um integrante do governo do Partido Liberal disse que a facilidade com que os caminhoneiros bloquearam a área ao redor do Parlamento e a aparente impotência da polícia eram uma “humilhação nacional”.
Já membros da oposição conservadora incentivaram os atos e tiraram fotos com caminhoneiros. Na semana passada, o Partido Conservador trocou seu comando porque Erin O’Toole, que liderava a sigla desde agosto de 2020, não teria demonstrado entusiasmo suficiente com o movimento.
Segundo a polícia, o protesto conta com financiamento de apoiadores nos EUA. A plataforma de arrecadação GoFundMe suspendeu a página de doações para o Comboio da Liberdade –a decisão irritou congressistas ligados ao Partido Republicano, que prometeram abrir uma investigação contra o site. O ex-presidente Donald Trump e o presidente da Tesla, Elon Musk, expressaram apoio aos caminhoneiros.
A polícia disse ter indiciado quatro pessoas por crimes de ódio e ter aberto uma investigação junto ao FBI, a polícia federal americana, sobre ameaças contra figuras públicas.